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a lareira da sala aquece
este frio de estar sem ti
a noite lá fora acalmou
já não ouço o vento na rua
e numa aparente calma
os meus pensamentos
são vasculhados pela tua imagem
não sei se corpo ou se alma
e neste silêncio quase quieto
que grita em mim a tua ausência
vens-me perturbar com a tua presença
como uma vândala que me rouba
tomando conta de de mim em assalto
este meu sossego agora agitado
dentro de mim ficas em imagem
e tentas o dialogo da tentação
para não levares contigo esta ilusão
tento exorcizar-te com os impulsos
vindos do bater deste meu coração
e expulsar-te através das minhas veias
pelas pontas dos dedos de minhas mãos
mas ele quase em colapso já bate fraco
sem força suficiente para te fazer sair
só me resta tentar recorrer aos meus olhos
para que no fogo da lareira
veja o teu reflexo na chama
e poder agarrá-lo com a mão
para coloca-lo a arder dentro de mim
e tentar queimar a tua imagem
que tanto inflama a minha carne
e incinera a verdade da minha alma
parte a imagem fica o reflexo
não sei qual das duas faz mais nexo
a que mais dentro de mim mexe e remexe
a que mais arde e a que mais queima
em imagem ou reflexo aqui ficaste
ainda daqui não partiste
se tens mesmo que permanecer
agitando memórias e recordações
deixa-me ao menos uma vez mais
olhar teus olhos e deixar-te uma rosa
para que me traga de novo o meu sonho
de seres a minha estrela em dia de namorados
eu desejo e não desejo o teu amor
eu desejo e não desejo troca-lo por uma flor
eu tenho e não tenho por ti uma grande dor
eu tenho e não tenho troca por um cálice de licor
eu posso e não posso ter a tua mão
eu posso e não posso troca-la por uma ilusão
eu sonho e não sonho ter-te comigo nua
eu sonho e não sonho trocar-te pela lua
eu sinto e não sinto andar contigo no mesmo caminho
eu sinto e não sinto sair a voar como um passarinho
eu choro e não choro por esta minha desgraça
eu choro e não choro por detrás de uma vidraça
eu quero e não quero amar-te assim
eu quero e não quero trocar-te por um fim
vi uma criança à beira da estrada
pareceu-me abandonada
e pelo frio amargurada
quis roubar alguns nuvens
para lhe fazer uma casa de pedra
e fui com ela de viagem
até à próxima primavera
abri uma porta para o céu
para no azul voar com os pássaros
cortar o vento em direcão ao mar
os campos e montanhas admirar
afinal toda a criança é um guerreiro
que sabe montar um cavalo alado
deixe também uma janela aberta
no sentido do caminho das estrelas
para à noite passear com elas
entre tempestades de prata
no fascínio do som dos sonhos
a verterem de dois olhos risonhos
ah… quase não me lembrava!
levei-lhe umas sandálias...
Direitos da imagem: can stock photo
perdi os contornos da vida
não foi este sentir que eu queria
em pesadelos que me atormentam
as noites frias e sem magia.
pego numa folha de papel
tento desenhar teu rosto
e fazer-te um destino meu
por onde vagueiam os mistérios
dos prazeres intensos do corpo
mas nunca desenhei o que sentia
cansado e desiludido
troquei-te por um sonho
num breve sono em que morria
e foi ali que te criei
inventei só uns olhos
para cruzar nosso olhar
uns lábios para um beijo
e um corpo para amar
beleza de tão encanto
ou sublime fantasia
porque te criei assim?
não me perguntes a razão
o que sinto dentro de mim
não tem explicação
mas sonhei-te tão leve
quase sem presença
sem pertenceres a alguém
eras apenas minha pertença
que não pertence a ninguém
foi assim que te criei
- beleza em presença -
com o papel em ausência
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