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há sempre um princípio e um fim
um olá a uma vida pela primeira vez
e um adeus a despedir-se de mim
uma morte que chega com lividez
adeus… addio… adieu… adiéos…
é por do sol a morrer no horizonte
no princípio da noite a nascer a jusante
e a génese a trazer consigo um adeus
e tu que vieste do meu coração – adeus
parte sempre alguém em alguma parte
para gerar um novo mistério de deus
volátil vida a deixar qualquer saudade
sonhos passados que foram meus e teus
o início e o fim de uma vaga eternidade
eu desejo e não desejo o teu amor
eu desejo e não desejo troca-lo por uma flor
eu tenho e não tenho por ti uma grande dor
eu tenho e não tenho troca por um cálice de licor
eu posso e não posso ter a tua mão
eu posso e não posso troca-la por uma ilusão
eu sonho e não sonho ter-te comigo nua
eu sonho e não sonho trocar-te pela lua
eu sinto e não sinto andar contigo no mesmo caminho
eu sinto e não sinto sair a voar como um passarinho
eu choro e não choro por esta minha desgraça
eu choro e não choro por detrás de uma vidraça
eu quero e não quero amar-te assim
eu quero e não quero trocar-te por um fim
não olhem para mim
não leiam o que escrevo
eu não guardo nada
apenas o meu rosto
e um diário
só com a ilusão timbrada
não conheço as palavras
nem procuro conhecer razões
dessa ausência em forma
de certeza rabiscada
moro numa redoma
de folhas brancas
à espera de serem escritas
por seres eruditas
com verbos já esgotados
não sou a metade de nada
nem o princípio nem o fim
não tenho lágrimas
só emoções a definir
um silêncio de sensações
aqui estou sem mim
neste diário feito assim
escrito com o vento
que vem através de ti
e me diz sem eu saber
o que chega da alma
é um tudo e um nada
(voz de um horizonte de bruma)
silêncio desconhecido
não sei se este é o modo
que deveria ter vivido
o que ando a fazer?
a encontrar o desejo
sem ter o seu prazer?
será insano não perceber
este diário que escrevo
coisas que se compõem
sem se poderem ler ou ver
(palavras nunca ditas
nem nunca se irão dizer)
será este meu diário
uma verdadeira convicção
distinta de qualquer ilusão?
será que os meus dedos fingem
para minha alma não padecer?
mas para quê querer saber
se o meu diário é uma crença?
haverá alguma diferença?
sem a certeza da (in)compreensão
peço a alguém por ai
a alguém que seja ninguém
que acabe este diário
e o mostre para mim
(deixo estas linhas em branco
por entre espaços babilónicos…)
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________________________
_______________________...
leve tão leve este explicar
incólume às mãos de ninguém
sem deixar rasto do seu gesto
para manifestar a sua presença
só sei que pertence a alguém
que me trocou o não pelo ser
que prolongou um sonho
sem eu próprio saber
(o diário ficou por escrever)
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