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vi uma criança à beira da estrada
pareceu-me abandonada
e pelo frio amargurada
quis roubar alguns nuvens
para lhe fazer uma casa de pedra
e fui com ela de viagem
até à próxima primavera
abri uma porta para o céu
para no azul voar com os pássaros
cortar o vento em direcão ao mar
os campos e montanhas admirar
afinal toda a criança é um guerreiro
que sabe montar um cavalo alado
deixe também uma janela aberta
no sentido do caminho das estrelas
para à noite passear com elas
entre tempestades de prata
no fascínio do som dos sonhos
a verterem de dois olhos risonhos
ah… quase não me lembrava!
levei-lhe umas sandálias...
Direitos da imagem: can stock photo
que faço eu de ti
se porém não sei de mim?
já me faltam os poemas
acabaram-se as palavras
a poesia são apenas lágrimas
nada nasce no que sou
acabou a inspiração
que nunca antes começou
só compreendo o meu coração
sou criança a aprender a vida
com problemas de expressão
e por nada saber de amores
dou-te o que conheço: flores
acabei agora por escrever
que sou mera ilusão
tudo o que não queria ser
acaba nesta conclusão
de mim continuo sem saber
e de ti só recordo o sorriso
de tamanha admiração
que dentro de mim sinto
retirei a capa dos meus sonhos
a andar por ai nas noites escuras
e em golpe rápido cortei-lhe a garganta
para que a sua voz tentadora
não enfeitice mais ilusões
ainda a confundo nas sombras
abano a solidão para ter a certeza
que afastei todo o sofrimento
já não está quem não chega
a chuva de hoje lançou à sarjeta
esta falsa vida de querer ser
este inexplicável olhar de ver
almas e corpos em orgia
traz o inverno este frio
das nuvens já caem as cores
e ouve-se seus gemidos no céu
e a terra
está cinzenta e pálida
pede o branco da neve
mas esta não vem - tarda
e Janeiro
é este frialdade sepulcrário
onde só a chuva se delicia
nas árvores doridas
nos frutos em mágoa
da primavera que não chega
e eu
sinto-me a seguir ao contrário
cada noite é mais fria
não há mulher que se desnude
os beijos gelam nos lábios
apenas chove em meus olhos
só o perfume da lareira me acalma
e tu
quebra este gelo feito da dor
traz um garrafa de vinho
eu tenho uma lareira e o calor
vem beber um copo comigo...
fujo das palavras
que me secam a alma
que conversam comigo
antes de escrever
discursam e discursam
lado a lado
por fim só
o absoluto silêncio
interrompido
pelo som oco
do pousar da caneta
em cima da mesa
na folha branca
que me enche a alma
perdi os contornos da vida
não foi este sentir que eu queria
em pesadelos que me atormentam
as noites frias e sem magia.
pego numa folha de papel
tento desenhar teu rosto
e fazer-te um destino meu
por onde vagueiam os mistérios
dos prazeres intensos do corpo
mas nunca desenhei o que sentia
cansado e desiludido
troquei-te por um sonho
num breve sono em que morria
e foi ali que te criei
inventei só uns olhos
para cruzar nosso olhar
uns lábios para um beijo
e um corpo para amar
beleza de tão encanto
ou sublime fantasia
porque te criei assim?
não me perguntes a razão
o que sinto dentro de mim
não tem explicação
mas sonhei-te tão leve
quase sem presença
sem pertenceres a alguém
eras apenas minha pertença
que não pertence a ninguém
foi assim que te criei
- beleza em presença -
com o papel em ausência
tanto me agito
nada é imenso
nem intenso grito
de um mar doído
do som da água
de tuas lágrimas
a caírem da lua
tudo é silêncio
a pintar teu rosto
com um poema
de fim de noite
entre meus dedos
fogem pombas
em direção ao céu
onde cintila
o teu olhar
soletro todas
as estrelas
para teu nome
encontrar
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