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à beira da praia
sinto o pensamento dos rochedos
e em meus lábios arde a flor de sal
recém-chegada da noite
escorre pela garganta seca de silêncio
a inundar o meu corpo de areia
tentando cobrir esta solidão
da sua incapacidade de expressão
e nas ondas surge um vazio
de uma concha fóssil secular
a rasar a vastidão do mar
onde ferve um tempo reprimido
entrego-me ao fundo do oceano
para encontrar outra luz outra vida
suspensa na densidade das águas
aconchego-me nos limos e nas algas
e preso na rede dos meus sonhos
adormeço nos tentáculos de m’alma
como sinto a falta dos teus olhos
a falar comigo com teu olhar
quando perturbavas os meus sentidos
e sentia os teus beijos húmidos
em meus lábios desesperados
e me provocavas tanto... mas tanto
fazendo arder os meus desejos
sem me tocares era apenas o olhar
como era … sim como era…
a expressão penetrante desse olhar
a deslizar no meu corpo
e a afagar a minha respiração
quando teus olhos olhavam os meus
e tudo o que queria era olhar-te de novo
ao nascer do sol logo pela manhã
nos meus olhos o amor se deitou
adormeceu com as memórias de ti
e na cama húmida de lágrimas sonhou
na noite das noites que não têm fim
noite escura onde brilham primaveras
de um ébrio amor de um luar ardente
vindo de céus de estrelas de outras eras
onde dois corpos se amaram loucamente
e no calor da lareira onde me aqueço
queimo paixões de um desejo bem fugaz
nas labaredas de chamas no firmamento
aguardo o tão esperado silêncio de paz
nas cinzas que arrefecem diante o tempo
sinto-te perdida nesta vida
viras as costas à tua alegria
e ao amor não sentido ainda
sinto o teu corpo em lamento
uma solidão presa num gemido
no grito que me traz o vento
qual dor qual sofrimento
de um olhar já tão dolorido
de tão sagrado sentimento
recorda - amor - este momento
deste sentir a te sentir agora
num suave e breve fragmento
é hora - tenho que ir embora
eu nunca quisera ser violento
com a tristeza que em ti mora
a alegria de mim é o teu alento
abre a porta - eu estou lá fora
há sempre um princípio e um fim
um olá a uma vida pela primeira vez
e um adeus a despedir-se de mim
uma morte que chega com lividez
adeus… addio… adieu… adiéos…
é por do sol a morrer no horizonte
no princípio da noite a nascer a jusante
e a génese a trazer consigo um adeus
e tu que vieste do meu coração – adeus
parte sempre alguém em alguma parte
para gerar um novo mistério de deus
volátil vida a deixar qualquer saudade
sonhos passados que foram meus e teus
o início e o fim de uma vaga eternidade
partiste sem um adeus
de despedida
não é o amor que dói
é a tua ausência
separa-nos um oceano
um outro lugar distante
[a impedir
o toque de nossos corpos
que paisagem te envolve
que silêncios escutas
que olhares contemplas
que amores procuras?...
...que e mais que seria...
não são as palavras
que descrevem a falta
da tua presença em mim
és tu
e tu não és definição
como não posso exprimir
este tão profundo sentir
imprimo nesta folha preta
o relevo branco de teus traços
falas em silencio comigo
por entre a tua voz
murmúrio cálido
do meu sossego
a aquecer o meu pensamento
a derreter o aço das palavras
que vagueiam sozinhas
para moldar a minha alma
em forma de baú
onde irei guardar
lembranças da tua fala
quando a saudade
me vier tocar
poderei então abri-lo
com os códigos
dos nossos segredos
e remexer nas tuas palavras
que protejo dentro do peito
diamantes lapidados
ouro de alto quilate
rubis safiras
esmeradas alexandritas
topázios turquesas
perolas negras…
jamais as poderei perder
valem todo o meu viver
o elo de te ter e não ter
sussurros de ti
escolhidos para mim
e nada mais vale
do que este valioso tesouro
palavras nunca ditas antes
mas que guardas em mim
em timbre melodioso
da voz de Paula Fernandes
é este inigualável valor
de quão elevado riqueza
que faz um homem pobre
de palavras sem valia
deter um preciso tesouro
dos tons da tua melodia
haverá alguém
mais rico do que eu?
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